Buen Camino

Hospitaleiro voluntário no Caminho de Santiago

By abril 25th, 20164 Comentários
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Em julho de 2015 eu realizei um dos sonhos que é algo comum entre peregrinos: eu trabalhei como hospitaleiro voluntário no Caminho de Santiago, em um albergue no povoado de Foncebadón, que fica entre Rabanal del Camino e El Acebo, na província de León. Como muitos, eu fui tocada pela simplicidade e autenticidade de muitos hospitaleiros durante os meus Caminhos (aquela época já tinha feito o Caminho Francês em 5 ocasiões – alguns trechos e uma vez inteiro) e queria retribuir. Queria ver o lado de dentro, o dos bastidores, e aprender como aquilo era organizado dia após dia para que toda aquela magia funcionasse dentro da grande engrenagem que é o Caminho de Santiago.

Foi uma experiência incrível, com altos e baixos, como o próprio Caminho e a vida. Foi relaxante e cansativa. Foi de paisagens lindas e amanheceres cedo e sem preguiça. Foi um dar e receber constante durante 13 dias. Muitos sorrisos, conversas longas com peregrinos e hospitaleiros, trabalho braçal, mais sorrisos, novos ingredientes na alimentação, novas idéias na cabeça. Abraços, conselhos, ouvir e contar histórias de outros Caminhos. Afagos em cachorros, em cabras, frio gostoso que vinha do alto da montanha.

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Foncebadón é um lugar mágico onde eu já tinha ficado hospedada nos dois anos anteriores e amei quando consegui que meu voluntariado fosse ali. Depois eu conto melhor sobre o albergue, a rotina, etc. Agora eu deixo umas idéias gerais do que eu senti devolvendo ao Caminho tudo o que ele me deu, dessa vez como hospitaleira. De repente você se inspira e também segue por esse caminho….

Como é ser hospitaleiro voluntário no Caminho de Santiago?

Não é a coisa mais fácil do mundo entrar na rotina de um albergue. Quanto mais funcionários fixos ele tiver, mais tato você vai precisar ter para ser aceita pelo grupo e que te deixem fazer parte do trabalho. Eles sabem que você ficará um período curto, que costuma ser de 15 dias (mais que isso caracteriza um trabalho e você deveria ser devidamente registrado e remunerado por isso), então não é tarefa das mais fáceis encontrar algo pra você fazer. Mas você pode dar apoio em várias tarefas, como quebrar amêndoas por exemplo (nesse albergue nós vendíamos saquinhos de frutos secos preparados por nós mesmos). Alguém terá que fazer isso, e é aí que você entra.

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Você vai se encantar com as histórias por trás das pessoas que trabalham ali. Sempre que puder, puxe conversa. Com certeza você vai ver que nesses lugares o tempo vai mais devagar e as conversas podem ser longas e interessantes. Nesse albergue, por exemplo, havia aula de yoga todas as manhãs, ministrada pelo dono, Felipe. Claro que eu fui aluna assídua e vi como ia melhorando a cada dia. E também pude conhecer um outro lado dessa pessoa que comanda este albergue há 11 anos, além de cuidar dos animais que cria e sem deixar de lado o exercício físico e mental que a prática da yoga proporciona. Um dia a sala estava lotada de peregrinos dormindo, então fizemos aula ao ar livre. Nem preciso dizer que foi sensacional (nossas caras não nos deixam esconder).

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É a sua oportunidade para conhecer melhor a região nos momentos de folga. Sabe aquela sensação de ter gostado tanto de um lugar por onde você passa como peregrino e querer ficar mais uma semana ali só pra curtir tudo o que ele tem a oferecer? Como hospitaleiro voluntário talvez você consiga uma brecha pra isso. Em Foncebadón eu voltei à minha querida Cruz de Ferro duas vezes: uma às 9 da noite, no por do sol, tendo ela só pra mim, pra olhar pra ela o tempo que fizesse falta; e outra de manhã, a caminho de Manjarin, quando fui visitar o Thomas.

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Tudo o que você fizer vai te lembrar a como você foi recebido no seu Caminho, e você vai querer dar a melhor experiência aos peregrinos que estarão aos seus cuidados agora. Você vai sentar e vai ouvi-los, vai responder às suas dúvidas, vai dar conselhos, vai conversar de peregrino pra peregrino. Vai fazê-los se sentirem especiais por estarem ali, vai sorrir, vai abraçar e até chorar com algum deles, exatamente como se você estivesse peregrinando. Vai até fazer brigadeiro pros conterrâneos! A experiência é a mesma. E vai ver que é triste chegar na hora de ir dormir e ter que se despedir dos novos amigos instantâneos que fez naquele dia.

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Você vai ver que os hospitaleiros guardam dentro de si esses mesmos valores que você adquiriu durante a sua peregrinação. E vai ser uma troca de idéias diárias sobre Caminhos, estações do ano das suas peregrinações, histórias, lugar de partida, nacionalidades…às vezes nem é preciso falar: você nota nas atitudes deles tudo o que eles aprenderam e repassam aos peregrinos e aos demais hospitaleiros. E acaba aprendendo assim também.

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Você vai fazer coisas novas pela primeira vez, desde explicar as regras do albergue até fazer propaganda do menu do jantar para conseguir mais reservas. Vai limpar a cozinha, os banheiros, trocar os lençóis, pendurar roupa, descascar nozes e amêndoas, colher ortigas (com luvas) e usá-las como ingrediente de uma paella vegetariana…vai lavar muita louça, guardar pratos e copos nos seus devidos lugares, por e tirar a mesa, servir vinho…e também vai conversar com cachorros, com cabras e com qualquer novo amigo que cruze o seu caminho, seja ele da espécie que for.

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Um peregrino fez uma metáfora comparando o Caminho a um avião: há turbulências todos os dias, mas elas não impedem o vôo. Trabalhar como voluntário em um albergue de peregrinos é a mesma sensação. Há dias que começam ruins e terminam de forma inusitada e excelente, há outros em que você força para que algumas situações aconteçam e termina sendo levado sem querer a outras (na verdade o Universo é quem decidiu por elas), que acabam sendo melhores e mais importantes pra você do que se podia esperar. Há magia do Caminho nos albergues também 😉

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Há dias que você quer viver essa vida de hospitaleiro só pelos 15 dias que você combinou, mas há outros em que você gostaria de seguir fazendo isso por 1 mês ou mais, muito mais….

Como ser hospitaleiro voluntário no Caminho de Santiago?

A primeira coisa que você precisa fazer é procurar as Associações de Amigos do Caminho de Santiago da sua cidade e país e perguntar se eles têm algum programa de voluntários. No Brasil, as mais conhecidas são a AACS, no Rio de Janeiro, e a ACACS-SP, em São Paulo, mas muitos estados têm a sua própria regional.

Na Espanha, procure o Acácio, do Albergue Acácio & Orietta, através do email voluntarioscamino@yahoo.es. Ele é brasileiro e vive no Caminho há 18 anos. Foi ele quem me ajudou com o meu voluntariado e sou muito grata. Valeu, Acácio!

Este post da Federación Española de Asociaciones de Amigos del Camino de Santiago explica sobre o tema e disponibiliza os contatos das associações e cursos em vários países do mundo.

Alguns albergues têm o seu próprio programa de hospitaleiros voluntários, como é o caso do albergue de Caminha, na fronteira entre Portugal e Espanha e parte do Caminho Português da Costa.

Você também pode dar a sua contribuição ao Caminho inscrevendo-se em alguma Associação de Amigos do Caminho de Santiago na sua cidade e pagando uma taxa simbólica para que eles continuem apoiando os futuros peregrinos. Além disso, poderá participar das atividades que eles promovem, das caminhadas de treinamento em vários estados do Brasil e inclusive sendo voluntário nessas associações. Os futuros peregrinos vão adorar saber sobre as suas experiências e poder tirar dúvidas com alguém que já é veterano no Campo das Estrelas. Ultreya!

Guia Caminho de Santiago That Good TripSe você está se preparando ou conhece alguém que queira fazer o Caminho de Santiago e não sabe por onde começar, veja o Guia Grátis que escrevi sobre as informações básicas que você precisa para ser um peregrino. É só clicar na foto e fazer download!

Suzana

Suzana

Jornalista e travel blogger. Aprende o que o mundo ensina e inspira as pessoas a viajarem. Já morou na Finlândia, já trabalhou na Disney, fez o Caminho Inca e vai como peregrina a Santiago de Compostela frequentemente. Vive atualmente em Madri e continua transformando seus feriados e férias de 23 dias ao ano nos melhores períodos da sua vida.

4 Comentários

  • Felipe amaro ramos silveira disse:

    Quiero ser voluntário

    • Suzana disse:

      Oi Felipe, tudo bem? Você vai gostar! No post você tem os contatos pra se inscrever como voluntário em um albergue do Caminho, você chegou a ver? Um abraço!

  • José DOliveira disse:

    Sou José, Estou interessado em fazer voluntariado como hospedeiro no Caminho de Santiago
    Disponível desde já
    Saudações Peregrinas
    jdoliver52@gmail.com

    • Suzana disse:

      Olá José, tudo bem? Que bom saber disso, você vai adorar a experiência. Não sei se agora no inverno eles precisam de voluntários, porque há menos albergues abertos, mas você pode ver as instruções que deixo no post e escrever para o Acácio e demais associações para perguntar. Outro abraço peregrino pra você!

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