ExperiênciasTrabalho no Exterior

Voluntariado na Ásia e África

By maio 19th, 20162 Comentários
Voluntariado pelo mundo

Continuando com a série especial do blog That Good Trip sobre Trabalhos no Exterior, hoje colocamos a segunda parte da entrevista de voluntariado internacional com o Fábio Nilo e o João Compasso (leia a primeira parte da entrevista aqui). Eles nos contam mais detalhes sobre como foi fazer voluntariado na Ásia e África e o significado que essa experiência teve nas suas vidas.

Fábio Nilo é administrador de empresas e mora em Amsterdam, e João Compasso é editor da revista Bossa e mora em Madrid. Os dois fundaram a ONG Silent Voices e, através dela, ajudaram a muita gente nessa viagem que durou um ano – e continuam ajudando atualmente, tanto na Ásia e África como no Brasil.

Conheça mais a fundo essa viagem transformadora e inspire-se!

Que critérios vocês usaram para escolher os países e as instituições?

Foi uma busca que foi feita com muita cautela. Buscávamos sempre referências de amigos e investigávamos profundamente. Logo depois de uma série de comunicações por e-mail, buscávamos fazer um contato por Skype e todas as terças nos reuníamos para fazer um brainstorm sobre nossas investigações. Para nos “aproximar do nosso sonho” colocamos o mapa da África ao lado da nossa mesa (risos). Bons tempos.

Voluntariado no mundo

Como era a rotina de vocês em cada local durante o voluntariado internacional?

Bem, acordávamos cedo, independente se tínhamos trabalho com a comunidade pela manhã ou não. Geralmente, como tínhamos muito trabalho de back office, tentávamos fazê-lo na primeira hora e logo pela tarde trabalhávamos com a comunidade. A rotina dependia de cada local e trabalho que realizávamos, mas basicamente era essa. Pela manhã trabalho de back office, buscar fundos, fazer campanhas, editar vídeos, fotos e alimentar as redes sociais e pela tarde trabalhar em campo (desenvolver atividades lúdicas, de entretenimento e/ou educacionais com as crianças). A verdade é que gostaríamos de estar mais em campo do que no ‘escritório’, mas um era tão essencial quando o outro.

Tiveram que pagar para serem voluntários em alguma instituição?

Não. Apesar da oferta de voluntariado internacional pago ser bem maior, preferimos buscar projetos sociais validados por amigos e que demonstravam uma clara necessidade. Vimos todos os tipos de ofertas de voluntariado pago mas a maioria cobravam um absurdo e nos parecia superficial. Entretanto, sempre bancávamos nossos custos de moradia e alimentação pois não achávamos justo que as ONGs tivessem custos extras conosco. Em Chazon, pagamos (adicionalmente) uma taxa que era destinada a projetos locais para beneficiar a escola/orfanato.

Voluntariado no exterior

Vocês receberam hospedagem e alimentação em todos?

Não. Pagamos por isso. No caso do Orfanato Arise and Shine, o segundo mês não pagamos porque eles não queriam receber, mas comprávamos parte de nossa comida e ajudávamos com o que era preciso. No último dia decidimos fazer um ‘desejo’ para os garotos: frango assado com batatas fritas – isso era como um prato de luxo para eles. O engraçado é que muitos que comeram pela primeira vez acharam estranha a comida, o que não esperávamos (risos).

Podem nos contar o tipo de trabalho que fizeram em cada instituição e o tempo que passaram?

  • ARISE AND SHINE CHILDREN’S HOME (DOIS MESES) – Quênia

Nossa primeira parada foi no Arise and Shine Children’s Home. Situada no Grande Vale do Rift no Quênia, esse orfanato é o lugar de refugio de mais de 34 crianças vulneráveis. Muitas delas foram abandonadas pelos pais e viviam em situação de extrema pobreza, mas aqui elas encontraram não só uma casa mas uma família para cuidar delas.

Em Arise and Shine nós angariamos fundos para consertar o dormitório dos meninos que se encontrava em péssimas condições. Por causa das goteiras no telhado e os buracos nas paredes, os meninos ficavam doentes com frequência durante as temporadas de chuva e frio. Graças às doações arrecadadas pelo Silent Voices, nós conseguimos reparar o telhado e as paredes, atingindo o nosso objetivo de prover um quarto seco e agradável para os meninos. Fora isso desenvolvemos diversas atividades lúdicas com as crianças.

  • CHAZON CHILDREN’S CENTER (DOIS MESES) – Quênia

Chazon Children’s Center é uma escola em Molo, no Quênia, que abriu suas portas em 2007 para 23 pupilos que começaram a frequentar a escola para ter o que comer durante o dia. Devido a numerosas doações, Chazon cresceu e hoje é capaz de fornecer educação para 420 crianças independentemente de suas religiões, sexo, raça ou tribo.

Para ampliar sua ajuda às crianças desabrigadas que se encontravam nas ruas mendigando por comida, Lucy e Samuel, fundadores da Chazon Children Center, decidiram comprar um pedaço de terra para construir um orfanato. Nós apoiamos seu sonho financiando a construção de banheiros externos. Hoje em dia o orfanato está finalizado, oferecendo abrigo e uma vida melhor para cerca de 30 crianças. Adicionalmente, visitávamos a escola todos os dias e desenvolvíamos varias atividades com as crianças.

  • FREEDOM CHILDREN WELFARE CENTER (DOIS MESES) – Nepal

Freedom Children Welfare Center (FCWC) é um pequeno abrigo para crianças no coração de Kathmandu, no Nepal. Fundado por uma estudante belga em parceria com uma nepalesa, FCWC é a casa de 24 crianças que foram abandonadas por seus pais e viviam em extrema pobreza.

Para ajudar FCWC nós coletamos fundos e alugamos um pedaço de terra (pela duração de 1 ano) para o cultivo de vegetais de forma a tornar a instituição auto-suficiente em alimentos. Uma parte dos vegetais é usada na alimentação diária das crianças e o excedente é vendido nos mercados locais para gerar receita e garantir renda para o aluguel da terra nos anos seguintes. Diariamente íamos ao orfanato para ajudar as crianças com suas tarefas de casa e desenvolver atividades com eles.

Voluntariado na África

  • KHAGENDRA NEW LIFE CENTRE (DOIS MESES) – Nepal

Esta instituição representa um refúgio para vários deficientes físicos e mentais com recursos limitados. Localizado em Katmandu (Nepal), este centro definitivamente já viu melhores dias. Atualmente, com praticamente nenhum apoio do governo do Nepal, seus moradores sobrevivem graças a doações de voluntários que se sensibilizaram coma precariedade das condições dos residentes e patrocinam suas estadias por ali.

Nossa campanha de arrecadação de fundos teve como objetivo proporcionar uma vida decente para Saraswoti e Kumari, duas meninas indefesas abandonadas pelos pais. Por dois anos nós patrocinamos as duas, cobrindo suas necessidades em Khagendra (moradia, alimentação, remédios e roupas).

Graças ao apoio de uma Fundação, também conseguimos adquirir um painel solar para Khagendra, ajudando-lhes a melhorar a qualidade de vida de seus residentes. Nepal está sofrendo atualmente de uma grave falta de energia que tem deixado as pessoas mais necessitadas sem energia por mais de 14h por dia. Com a luz fornecida pelo painel solar, agora seus residentes têm muitos motivos para sorrir!! Fora isso, íamos ao centro com frequência para conversar com os residentes e ajudar no que fosse preciso (por exemplo jardinagem).

  • KHMER NEW GENERATION ORGANIZATION (1 MES) – Camboja

KNGO é uma ONG que visa proporcionar educação gratuita e habilidades vocacionais para crianças e adultos da zona rural da aldeia Bospo, região sudoeste do Camboja.

Apoiamos KNGO em seu trabalho de reduzir a pobreza das crianças das áreas rurais de Bospo, ajudando-os a oferecer educação gratuita e qualificação profissional para mais de 400 alunos. Além de dar aulas de inglês para as crianças e brincar com elas, nós também ajudamos a cobrir as despesas da escola e doamos várias bicicletas para viabilizar que as crianças que moram longe participassem das aulas gratuitas.

  • GAWAD KALINGA (1 MES) – Filipinas

Gawad Kalinga foi fundada em 1995 com o objetivo de acabar com a pobreza de cinco milhões de famílias até 2025 trabalhando ativamente para reconstruir províncias das Filipinas destruídas após desastres naturais, como tufões e terremotos.

Com base em uma lista de pessoas altamente afetadas pelo terremoto de outubro de 2013 e em conjunto com a equipe do Gawad Kalinga, selecionamos uma família extremamente carente, arrecadamos fundos e construímos (com ajuda da comunidade) uma casa para eles com nossas próprias mãos.

  • BANDUNG INCLUSIVE ENGLISH SCHOOL (1 MES) – Indonesia

Bandung Inclusive English School é uma comunidade voluntária sem fins lucrativos criada com o objetivo de dar aulas de inglês para pessoas com deficiência, como paraplégicos, cegos, surdos e pessoas com mobilidade limitada.

Apoiamos esta instituição em seu objetivo, dando aulas de inglês básico e intermediário, abraçando a diversidade e garantindo uma educação de qualidade em um ambiente de comunitário.

Significado de voluntariado

Como foi a experiência de voluntariado como um todo?

Se classificássemos como transcendental, inesquecível, única, profunda, sensorial, viva, não estaríamos exagerando, mas a palavra mais justa para classificar essa experiência seria “indescritível”. Qualquer tentativa de explicação para descrever essa experiência seriam meras palavras que não estão à altura de descrever a realidade. Estaria sendo negligente com um sentimento e experiência tão complexos. Apenas vivendo para entenderem essa experiência tão bonita e paradoxal.

Foi possível conhecer cada país durante o voluntariado internacional?

Sim, nos dividíamos como podíamos. Tínhamos muito pouco tempo e a prioridade era clara. Porém, nossa alma sedenta de novos lugares, cultura, experiência e vivência, nos fazia desdobrar nosso tempo e aproveitá-lo o máximo possível. Foi difícil, estressante, entramos em desacordo, sentimos vontade de voltar, brigamos, fizemos as pazes, tivemos vontade de ficar para sempre mas, no final, todo esse turbilhão de sentimentos foram digeridos, nosso trabalho foi feito e o turismo também. Deixamos algumas coisas para a próxima viagem, mas não tenho dúvida que fomos ‘eficientes’ neste ponto (risos).

Voluntariado internacional

Que dicas vocês dão para quem quiser seguir os seus passos e fazer voluntariado fora do país?

Siga o seu coração. Siga essa voz que sempre nos indica o caminho certo, mas muitas vezes queremos nos enganar. Porque? Por que é mais fácil, cômodo. Por que somos egoístas. Essa voz é o nosso eu mais verdadeiro, puro, e o negámos constantemente porque nos deixamos distrair com o que não é realmente necessário para o nosso crescimento. É uma ‘luta’ constante.

Se realmente deseja fazer algo, deve ser perseverante e organizado. Independente do que as pessoas te digam, tenha claro os seus objetivos e planeje como atingi-los. Coloque-os em um papel, busque forma, sonhe e mentalize, se esforce em todas as suas as ações para que isso se realize. Somos resultado dos nossos desejos e quando queremos muito algo, infalivelmente nós e o universo cuidará que isso aconteça.

Procure referências, elas são importantíssimas. Converse com as pessoas, esteja de coração aberto às coisas que acontecerão para ti. Seja paciente e generoso, escutar é uma forma de caridade. Leve o essencial na sua mochila, toda escolha é uma exclusão. Se arrisque, se permita, mas não ultrapasse os seus limites. Por fim, viva intensamente sua experiência, porque sem dúvida será uma das suas experiências mais bonitas, cruas, vivas, sensoriais de sua vida.

Confira aqui a primeira parte da entrevista! Conheça também o site da ONG Silent Voices e a sua página do Facebook.

Crédito de todas as fotos: arquivo pessoal 

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Suzana

Suzana

Jornalista e travel blogger. Aprende o que o mundo ensina e inspira as pessoas a viajarem. Já morou na Finlândia, já trabalhou na Disney, fez o Caminho Inca e vai como peregrina a Santiago de Compostela frequentemente. Vive atualmente em Madri e continua transformando seus feriados e férias de 23 dias ao ano nos melhores períodos da sua vida.

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